Quem somos nós?

Recife/Olinda, Pernambuco, Brazil
Um blog aí.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Mater


Hoje, minha alma permeada de maresia
Arde, ontem, à morte do Sol
E amanhã corre terras adentro,

violentando um rio mansamente,
como que sábia da grandeza da Terra

e confidente dos mistérios do céu.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Saudade

um poema substantivo pra coleção:

Saudade é a ânsia do agora em ser depois
é a espera do porvir
de um beijo de nós dois.




domingo, 29 de novembro de 2009

Diálogos - I

O chato

-Opa...
-Desculpe.
-Sem problema.
-Tem certeza?
-Não, estou sendo educado.
-Certo... agora não mais.
-Desculpe, então
-Não tem problema
-Imagino...
-O quê?
-O quanto vai durar.
-O quanto vai durar o quê?
-Nada não.
-Cara, você é estranho.
-Belo comentário.
-Muuito estranho...
-Ora merda, eu só não quero conversar.
-Tá...

(...)

-O que você acha de sorvete?
-É gelado...
-Ahh...
-Pffff!
-Só isso? Gelado?
-Dependendo do sabor, também é gostoso.
-Deixou de ser gelado, deixa de ser sorvete?
-Mais ou menos por aí, cacete.
-Rimou!
-Lá vem você...
-Ah, vai se fuder! ... Pffft! ... Rimou de novo!!
-Puta que pariu, porra. Será que pode parar com essa palhaçada! Que peste, panaca...
priopístico!
-Tá. Não precisa cuspir.
-É o aparelho
-Vou comprar um desse pra aguar a grama...
-Você é um clister.
-Você, um esfíncter.
-Que dupla de arrasar.
-Rimou e eu nem disse, tá ligado?
-Tem certeza?
-Como assim?
-Qual foi a rima?
-As palavras que nós dissemos?
-Quais foram as duas?
-Porque você quer saber?
-Você não acha que tá assistindo muito os improváveis não?
-Você acha?
-Não vale.
-Perdeu. Se fodeu!
-Me fodi uma merda, apelão.
-Espera aê, cara. É pra se divertir.
-Quer saber? Vou dormir
-...rr
-...não...
-Rimou denoovo!!!
-Deus! Céu!
-...

(...)
(...)
(...)


-Sabe? Naquela hora achei que ia me chamar de porco, pivete ou pimpolho, mas panaca é foda.
-...
-Escutou?
-...
-EEI!
-RR..r
-EEiiii!!!!
-AAAHHH!!
-Socorro!
-Toma!!
-Frffr*ffghj#ghr%ferrrh@uxnft
-Hunft! Morre... morre.
-frarfrff!!mr¨arr°mtaff~mufi?urmrtrae&m... ah...
-Vai! Morre.
-Alguém me socorre.
-Morre!!
-Rimou.. rrsrfr... rimou denoovo!
-Morre!
-...
-Morre.
-...
-morre...
-...
-...

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

ELLEN

Do mangue vem gingando com uma bolsa bege
No alto da cabeça um coque que desprotege
O pescoço do sol, mas o calor diminui
Pois permite uma brisa que calminha flui
Amansando esse mormaço
Que molha e cola
Os cadernos leva no braço
Pra rua olha e corre pra atravessar
De repente o sol reluz, tremulando o chão
Esquenta, ensopa e a luz chega a cegar
Vira o rosto e num pestanejar
... Fecha os olhos
E abre o coração.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Confusão

Raiva e desejo
Alegria e remorso
Dor e prazer
Sossego e falta de ar
Felicidade e medo
Esperança e desespero
Desequilíbrio e segurança
Luz e ilusão
Desconfiança e certeza
Paixão e tédio
Paz e agonia.


(Mais um pra série "Poemas Substantivos")

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Sem título.

Fiz e pedi pra Thiago colocar um título. Ele não leu todo e não colocou. Dias depois ele viu.

Grief, Pain and Despair.



Cheira a vida pela veia

Sobe o negro à cabeça

Na loucura assim semeia

O dizer de: “Não se esqueça”


Foge sem medo pela estrada

Fica sempre rumo ao norte

Fecha os olhos não vê nada

Corre a esmo, tenta a sorte


Em contraponto ao grito de dor

Escancara os dentes e ri de si

Sua alma a tempo tem credor

“Satanás, em teu credo me perdi”

Caminha nas cores de sua morte

E o vermelho a tempo coagula

Estancando a vida no asfalto

Decepando a 3 metros de altura

Uma imagem que aos poucos se dissolve
A alma já longe admirada
Admira a carcaça esvaziada
Do que foi um fiel cão-de-guarda
E se dissolve criatura atropelada
Vai ganindo pelos ecos do porém
Ressoa no abismo como alguém


Não esquece o choro da vida que vender a alma não estanca a morte.Fecha o olhos e cochila, como Joseph K.

domingo, 1 de novembro de 2009

Isto


Eu quero
naquilo.


sábado, 31 de outubro de 2009

Poemas Substantivos

Como forma de tapar buraco e manter a freqüência da atualização em um texto por mês, publico aqui algumas coisas não tão boas e outras mais ou menos.


Poemas substantivos



Tédio

O tédio toca
No tic-tac do relógio
Um suplício
Sem remédio
Esse tal de tédio




Devedor

Ê bichinho fodido
Em um contrato acorrentado
Por vezes um bandido
Às vezes desavisado

Pode até não ter credor
Mas sempre tem um devedor




Ma-fé

Ma-fé é trocar.
O sal, no açucareiro colocar
Estragar, do outro, um café
Acabar com o bom-dia de um Zé.



Plano

Retinho
Secreto
Reto e correto
Audaciosamente esperto

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Virgens e Cachaça

A chuva castigava a casa dos Eigens naquela tarde de terça feira. O barulho pesado de água e vento batendo do lado de fora das janelas abafava qualquer outro som e as grandes nuvens cinzentas se alastravam pelo céu de tal forma que a claridade diminuía alcançando um tom relaxante aos olhos.
Apesar da anomalia que era uma tempestade repentina na atual estação, Lanara estava contente. A mudança súbita na atmosfera conseguia diminuir um pouco o peso que a nova rotina lhe impunha. Nos últimos meses a menina esguia de cabelos compridos e cacheados perdia todas as suas tardes por culpa de um homem irresponsável.
Enquanto juntava latas em um saco de supermercado com cuidado para não pisar na cerveja derramada, tentava julgar qual situação lhe desgastava mais. Após tantos anos convivendo com as brigas diárias de seus pais ela chegou a achar que o divórcio poderia ser a melhor solução. É difícil para uma menina de 14 anos chegar a conclusão que a separação de seus pais pode parecer a melhor situação, mas Lanara era madura o suficiente para perceber a verdade.
No entanto, a calmaria que ela esperava vir imediatamente após a tempestade jamais chegou. Com a última briga, sua mãe finalmente juntou coragem e simplesmente sumiu sem deixar notícias. Se os comentários maldosos de seu pai estivessem certos, Luana estaria agora em alguma cidade do sul com um homem tolo o suficiente para pagar por sua companhia. Quanto ao homem responsável pela bagunça que ela limpava, a história era um pouco mais complicada. Era como se seu corpo continuasse com seus afazeres diários, mas seu espírito estivesse tão longe quanto sua esposa.



Enquanto a água fraca e gelada tirava o condicionador de seus cabelos, ouviu o barulho de garrafas vindo da cozinha. Seu pai acabara de chegar. Já eram dez horas da noite e o retrato vinha sendo o mesmo nos últimos três meses: cheiro de cigarro, uma lata de cerveja na mão e o bom humor dos injustiçados.
– Pai, já estou indo dormir. - Ela disse com a voz cuidadosa. – deixei panquecas no forno.
Sua resposta se limitou a um grunhido afirmativo. Não era uma conversa muito afetuosa e Lanara não queria estendê-la alem disso. Ultimamente a rotina do seu pai resumia-se ao trabalho enquanto houvesse luz do sol e a ficar bêbado em casa durante a noite. Apesar da bagunça no dia seguinte ela ficava grata por ele beber somente em casa, se fosse dirigir seu táxi do mesmo jeito que passava suas noites, logo ela teria mais tempo livre a tarde por não ter mais comida para cozinhar.
A televisão alta já não a incomodava como antes, e ainda que incomodasse, seu cansaço era grande e o sono era necessário se quisesse completar seus planos para o dia seguinte: ir para o colégio, cozinhar alguma coisa para o almoço, arrumar a bagunça deixada pelo seu pai, fazer compras, cozinhar alguma coisa para o jantar e estudar. Que dia divertido. Ela pensava se virando de costas para a luz que entrava pela porta sem tranca.


– Lanara, quero que compre alguns daqueles sacos azuis grandes hoje. – Sua voz parecia menos ranzinza do que de costume enquanto acrescentava uma nota de dez ao dinheiro dado. – Estive pensando em arrumar aquele porão. – Ela achava impossível de acreditar. Nos últimos meses que se arrastaram, em todas as manhãs ele entregava apenas o dinheiro necessário para que ela abastecesse a casa e ia embora sem dizer mais nada, mas hoje, alem de tentar um sorriso em sua última frase, estava falando em entrar no porão.
Quando Luana deixou a casa ele jogou tudo que era dela escada abaixo e trancou a porta. Há dois meses quando Lanara lhe pediu a chave porque precisava dos sapatos da mãe o rubor cresceu em seu rosto enquanto gritava que ela não tinha mais mãe e que ninguém ia entrar no porão. Apesar da alegria que o ato de boa vontade de seu pai lhe dava ela não queria forçar mais nada e temia também que ele lhe pedisse para arrumar o porão. Ela nunca gostou de entrar naquele buraco nem mesmo quando sua mãe o limpava regularmente, que dirá agora.



O céu parecia mais azul naquela manhã. No caminho de volta para casa, Lanara se pegou pensando se sua mãe também não estaria cansada de ficar longe e se ela pensava em voltar para casa. Quando o ônibus fez sua parada em frente ao bazar do gordo, uma espelunca suja que ficava próxima à casa de Lanara, ela já pensava em como estava sendo boba de imaginar tanta coisa só porque seu pai lhe pedira algo com um falso sorriso.
Quando Lander chegou com seu habitual aroma de cigarro barato encontrou a casa mais limpa do que de costume e o cheiro de macarrão estava ótimo. Lanara terminava seus estudos quando escutou seu pai mexendo na panela. Enquanto passava pela cozinha com o pretexto de beber água, Lanara reparou que não haviam garrafas de cerveja em cima da mesa esta noite, apenas uma única garrafa larga de cachaça.
Mastigando como um morto de fome ele parecia mais nervoso do que de costume. A julgar pelas experiências anteriores em que a mesma expressão dominava seu rosto ou ele perdeu dinheiro ou bateu o carro. Independentemente do que fosse, um diálogo era a pior opção. Desanimada, a garota subiu as escadas até seu quarto forçou sua retina contra o livro mais um pouco e tentou o sono. A ausência do som alto que deveria vir da televisão inquietou a menina.
– Estaria ele realmente arrumando o sótão? Talvez tenha desmaiado com aquela cachaça. – os pensamentos a induziam a levantar-se e checar, mas o bom senso lhe dizia que não era uma boa idéia encontrar seu pai enquanto estivesse mexendo no porão, ainda mais bêbado.
Passados alguns minutos, alguns gritos e vozes anormais vindos do andar de baixo indicavam que a televisão devia exibir algum filme de terror, tudo estava como de costume. Há tempos que não tinha problemas para dormir, esta noite não foi diferente.


Seu coração batia rápido e sua testa tinha gotas de suor. Quando se levantou de súbito, Lanara não conseguia se lembrar que pesadelo acabara de ter, mas ainda se sentia assustada. Engoliu o café da manhã enquanto inúteis tentativas de lembrar seu sonho e a frase “estou atrasada” disputavam sua mente. O dinheiro que seu pai deixara na mesa do telefone não seria notado se o mesmo não tivesse tocado.
- alô? – Ela disse com pressa.
- bom dia, o Sr. Lander se encontra? – Pelo tom de voz parece que seria propaganda de algum cartão.
- Não, ele está no trabalho. Quer deixar recado?
- Na verdade, aqui é da companhia de tele-táxi. Estou ligando para tentar encontrá-lo, ele não comunicou que não viria, mas pelo que você disse, já deve estar chegando. Obrigada.
Ele deve ter se atrasado também. Pensou enquanto corria para a parada de ônibus.



Ela não havia notado pela manhã, estava com muita pressa para perceber. Quando chegou em casa naquela tarde, não havia garrafas pelo chão, roupas espalhadas ou louças sujas. Começava a se perguntar se ele havia de fato mudado, se finalmente teria caído na real. De qualquer forma, ela ainda teria que fazer o almoço e ir ao supermercado. Mas teria algum tempo de sobra esta tarde. Decidiu que seu pai merecia uma boa refeição e demorou-se um pouco mais no mercado.
Chegando em casa adiantou o estudo que seria feito à noite e pôs-se a cozinhar sua especialidade: filé de frango com queijo e molho de tomate. Ainda faltava algum tempo para que Lander chegasse e apesar de estar com fome, estava decidida a jantar com o pai.
Fazia algum tempo que não via televisão, a programação lhe parecia mais idiota do que de costume. Apenas alguns minutos foram necessários para lhe mostrar que não estava perdendo nada todo esse tempo longe da televisão. Movida pela curiosidade decidiu verificar como estava o sótão. Já arrumara a casa vezes o suficiente para saber que seu pai escondia a chave na mesa de cabeceira. Com medo de ser pega de surpresa correu até o quarto de seu pai à procura da chave. Ele devia ter mudado de lugar ou... Ele tinha deixado-a aberta. O pensamento lhe pareceu bobo, mas não custava a tentativa.


Com um leve empurrão a porta de madeira foi se abrindo acompanhada de um rangido. A luz vinda da sala permitia a entrada de luz o suficiente para iluminar parte da escada. Um hálito morno exalava do porão. O cheiro de pó estava misturado com algo podre. Um, dois, três, quatro cliques. A luz do sótão estava queimada. No final das contas, ele não tinha arrumado o sótão. Pensou Lanara, decepcionada com o pai. A porta estava quase fechada quando um grunhido agudo e baixo chegou aos seus ouvidos.
- Quem está aí? – ela perguntou curiosa e assustada.
. . .
O silêncio foi interrompido pelo grunhido novamente. Com a porta aberta ele era mais audível. Um cachorro chorando talvez. Ela pensou. O som era muito similar, mas que sentido isso fazia.
Em hipótese alguma ela iria descer ali sem luz. Seja lá o que estivesse ali, teria que esperar seu pai chegar. Obrigando-se a se distrair, decidiu que ela e seu pai beberiam suco junto com o frango. Pegava as laranjas na fruteira quando o som esganiçado voltou. O choro conseguiu lhe convencer que havia um cachorro machucado em seu sótão. Por que motivo ela não fazia idéia, mas a julgar pelo desespero na voz do bicho, ela precisava ajudá-lo.
Procurou pela lanterna, mas só o que conseguiu juntar foi uma vela, fósforos, um mini castiçal de madeira e coragem. O choro parecia mais calmo com o barulho dos degraus velhos reclamando do peso da menina. O sótão estava estranhamente quente e até onde a vela podia iluminar estava tudo arrumado, a não ser pela areia espalhada no chão. O som havia cessado quando uma brisa quente teve a perversidade de num único movimento apagar a vela e fechar a porta do sótão. Seu coração já acelerado desde que entrara ali agora parecia querer correr e deixar o corpo sozinho naquela escuridão. Pensamentos voavam enquanto tentava puxar os fósforos do bolso. E se tivesse realmente um cachorro ali, o que o impediria de atacá-la? Que tipo de porão maldito consegue gerar uma brisa?
Quando conseguiu acender um fósforo, algo lhe arranhou a perna perfurando a carne. O grito e o movimento brusco foram o suficiente para apagar a nova chama. Desesperada ela correu em direção a escada. Não estava mais correndo, estava se arrastando escada acima tateando seu caminho no escuro. A luz do sótão piscou. Um clarão seguido da escuridão e então a luz voltou. Não com a força que se esperaria, mas uma luz extremamente fraca e amarelada que agora iluminava o porão. Prostrada na escada a primeira coisa que viu foi um livro logo abaixo de seus olhos, estava aberto em uma gravura com pequenos demônios torturando e atacando humanos. A gravura era típica da idade média. Alguns humanos corriam nus dos diabretes enquanto outros humanos bem vestidos tinham chifres na cabeça e riam da cena. Descontrolada ela virou para encarar o que lhe atacara e pode presenciar que tipo de arrumação seu pai tinha feito.
O chão do sótão tinha um pentagrama desenhado com algum tipo de areia vermelha. No centro do pentagrama dois cadáveres. Cabelos longos encaracolados e roupa nenhuma no corpo revelavam o corpo já muito decomposto de Luana. O outro corpo lembrava-lhe vagamente a filha de 12 anos da vizinha, não havia tempo para ficar parada olhando. No pé da escada Lander encarava Lanara com um sorriso enlouquecido. Olhos amarelos e brilhantes, barba por fazer, pele acinzentada e unhas monstruosamente alongadas. Um... Dois... Três... Quatro passos em direção à garota paralisada de medo. Despertando do choque, ela correu em direção a porta. Um rosnado parecido com o de um cachorro violento ecoou de suas costas enquanto seu pai saltava como um felino dando o bote.




O local está lotado. Transeuntes curiosos, repórteres e policiais. Há faixas impedindo a multidão de avançar. Dentro da casa dois policiais conversam.
- Cachaça e uma virgem. Bobinho este diabo. – um policial satirizava uma das páginas de uma possível pista do crime. Na capa vermelha e grossa do livro pode-se ler: Invocando os Abissais. E no título do ritual da página lê-se: pedidos de ressurreição.
- Se quer saber minha opinião, ele virou essa garrafa, - disse o outro policial enquanto movia uma garrafa de cachaça com a bota. – ficou tão bêbado que matou a própria filha e sua amiga. Quando voltou a si e viu os corpos destas duas meninas, fugiu com medo da policia.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

SOMBRA DA MADRUGADA

O garoto continuava seu tedioso ciclo tentando ignorar o abafo irritante da nova cidade. Televisão, computador e cama. Ainda que estivesse a pouco tempo morando ali a falta de amigos lhe deixava preocupado. Quantas tardes teria de passar sozinho em casa até que encontrasse algo divertido para fazer. Não deveria ser tão difícil fazer amigos na quarta série.
Por fim o calor lhe convenceu a optar pela única alternativa que não deixaria suas costas úmidas de suor. Deitado ali no quarto com o ventilador ligado era ainda mais difícil evitar pensar nas coisas que o incomodavam. Tantos garotos pareciam ser felizes em seu colégio, tinham amigos, sabiam jogar bola sem passar vergonha. E o pior, porque nenhuma garota conversava com ele? Como sempre elas preferem se amontoar por apenas um garoto. Se ele ao menos fosse mais forte. Talvez se conseguisse que seu pai lhe pagasse uma academia...
Um grito interrompeu seus pensamentos, parecia alguém gritando de dor ou lutando com alguma coisa. Havia raiva naquele som vindo do prédio ao lado. Rompendo a letargia o garoto correu para a janela da sala. No meio do caminho outro grito. Desta vez o som parecia cair. Antes que pudesse alcançar as janelas um barulho de choque vindo do térreo o fez imaginar o que estava acontecendo.
Ali no chão do prédio vizinho o garoto viu seu primeiro cadáver. Um corpo deitado com uma poça de sangue ao redor do crânio. Não era uma mancha circular, era como se seu cérebro tivesse forçado a saída deixando um rastro de sangue e algo pastoso num vermelho escuro entre o corpo e a massa encefálica a uns dois metros.
Apesar do caráter perturbador da cena ele não conseguia afastar seus olhos. É como uma ferida na boca que, apesar da dor, não se pode deixar de passar a língua. Trinta segundos ou dez minutos devem ter se passado enquanto ele observava o que um dia fora uma pessoa. Aos poucos chegavam outros iguais ao cadáver. Corpos com vida e curiosos para saber o que acontecera amontoaram-se ao redor do infeliz. Dali do sexto andar não dava para saber o que se passava. Na tentativa de parecer diferente daqueles urubus humanos se afastou da janela e foi para o computador.
Será que ele foi empurrado? Um assassino no prédio ao lado? Por que ele pularia? Como alguém decide morrer de uma forma tão sem graça? E os seus familiares? As perguntas foram diminuindo à medida que o computador exigia sua atenção.
Após algumas horas no computador (sim, para este menino horas passam como minutos quando se trata do computador) chegaram seus pais. Eles disseram que o porteiro sabia o que tinha acontecido. Pelo visto o homem que morrera naquela tarde morava no nono andar e era maluco. Tomava remédio controlado e vivia sob os cuidados da mãe ou empregada ou irmã, não se sabe ao certo. Estava a dois dias sozinho no apartamento e quando a polícia entrou não encontrou os remédios em lugar algum. Sem sua medicação o homem cedeu à loucura e pulou.
Descoberta a causa do acontecimento o mesmo parou de lhe despertar o interesse. O tempo terminou de se arrastar até que o sono se fez presente. Antes de prosseguir com a história é necessário falar um pouco sobre a casa. A arquitetura dela era tal que a ordem dos cômodos era: banheiro, no fim do corredor; quarto dos seus pais e seu quarto, um de frente para o outro e perto do banheiro; um pouco mais adiante o quarto de seus irmãos. O corredor onde estavam as entradas destes quatro cômodos terminava na sala, que tinha a forma de um “L”, na parte menor da sala havia uma porta para a cozinha e outra que saia para os elevadores.
Naquela noite o garoto, sabe-se lá por quais motivos, iria dormir sozinho no quarto de seus irmãos.

Antes de cair no sono ficou imaginando o que poderia ter se passado na cabeça do suicida antes de pular. Alguns loucos acham que podem fazer coisas impossíveis, outros não percebem a realidade como ela é. E alguns vêm seres que ninguém mais vê.
Nunca teve problemas para dormir e naquela noite não foi diferente. No entanto, teve um sonho um tanto quanto estranho.
Estava deitado na cama de um de seus irmãos, cabeça para o corredor e pés para a janela, perpendicular ao corredor, quando ouviu o som de vidro se quebrando. O barulho parecia ter vindo da sala, correu para lá. O vidro estava quebrado e ele olhava fixamente para o andar em que o suicida morava.
Acordou do sonho um pouco perturbado. Levantou-se e foi receoso até a sala para ter a certeza de que tinha sido apenas um sonho. Assim que chegou ao corredor e olhou para a sala viu uma coisa que lhe arrepiou a nuca com uma força jamais sentida.
O que parecia ser uma sombra de um homem forte acabara de entrar pela janela próxima ao computador. Ele estava um pouco envergado como quem acaba de tocar o chão após um pulo alto. Aquilo o encarou, seu corpo era uma massa negra, como sombra materializada. Não havia detalhes em seu corpo, apenas contorno. Seu contorno não era o de um homem normal, apesar de essa ser a base. Pendurados em sua pele estavam algum tipo de cordas tão negras quanto ele. Em seu rosto havia olhos humanos e um lábio carnudo extremamente vermelho formando um sorriso fechado diabólico.
Ele sabia que o menino o observava assustado, pois ele também o observava, mas sem medo algum. O encontro durou menos que cinco segundos, em seguida ele pulou pela janela que entrou. Paralisado de medo o garoto permaneceu inerte no corredor. Após algum tempo voltou para a cama e conseguiu se convencer de que fora um sonho.
Nunca teve problemas para dormir, por pior que seja a situação. Naquele fim de noite não foi diferente.


Após me convencer de que tudo fora um sonho, e pra falar a verdade, talvez tenha sido, consegui voltar a dormir. Se foi real ou não, acho que não chegarei algum dia a ter certeza, mas sempre que me lembro do que vi naquela noite sinto um calafrio fugindo da minha coluna para se esconder em minha nuca.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Muito gelo e dois dedos de Amor

Quem disse que o amor é cego
Certamente namorava um feio
Quando é bonita não nego
Às feias, o digo sem receio

Ou seria um golpista, que com esse papo
Despista um amor interesseiro, por se
Esconder por traz de
Roma, pra apunhalar o dinheiro?

Ah, pois esse sacana bruto
Quando engana uma menina
Me deixa logo puto, qual o raio da cerebrina.
Pois se ta interessado no maldito do dinheiro
Deixe de ser espírito de porco, não espere
Nem um pouco,
Se case com um mealheiro.

Se é cego eu não sei,
Mas não tenho tanta raiva de quem sabe
Afinal por não ser rei
Não devo odiar a maldita majestade
Pois sentar no trono não me desperta saudade

Se é cego, também não quero saber
Pois a mim pouco importa entender
Fui a um museu de arte contemporânea ontem e não entendi porra nenhuma,
Mas se eu entendesse tudo, não haveria beleza alguma, seria só um intelectual que sabe
Rimar, que sabe falar, catalogar, ler, fumar, legalizar, criminalizar, transar, escovar os dentes, que sabe saber, às vezes desistir, quase nunca sabe dá o braço a torcer.
Porém seria um jegue, no mal sentido,
(Pois há um bom, não negue)
Se não soubesse como a rima
(Rima rica, como chamo)
Me leva lá pra cima
Quando digo que te amo.

Se sou Sego eu não posso caber
Em mim de alegria, quando troco as letras e faço uma melodia.
Que podia ter vindo do nada,
Porém, sabes sem olhar
Que surgiu do meu amar. Esse grande latifúndio
No qual andas e eu também ando.
Sempre brincando, sempre sorrindo, sempre querendo.
Mas não esqueço o último gerúndio,
Já estou até vendo,
Tudo veio do amando, mesmo a gente não entendendo.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Crises existenciais humanas

Certa vez, ouvi em uma aula de literatura, na época do colégio, que ter crise era saudável, era sinal de evolução do ser humano. Toda criatura que se preze deve ter uma crisezinha de vez em quando para colocar as ideias no lugar.
Vez ou outra isso vem a minha cabeça quando tenho (ou acho que tenho) alguma crise existencial, das que me levam a pensar: o que faço nesse mundo? E se eu morrer e não for útil a ninguém? Por que eu não ajudei aquela velhinha a atravessa a rua? Por que comi tanta carne no jantar? E mais inúmeras variações dessas perguntas de profunda relevância para esculpir nosso "eu" interior.

Mas crise é bom. Em momentos como esse, você se sente seu próprio psicólogo 24 horas. Você se questiona o tempo todo de tudo. Começa a virar analista de mercado, a trabalhar com possibilidades. E se eu não estivesse na Faculdade? E se eu fosse morar na África fazendo trabalho voluntário? De repente, sua bola de cristal faz projeções as mais absurdas sobre seu futuro porque, afinal, o que é um ser em crise? É aquela criatura que acha estar totalmente perdida no mundo, fazendo tudo errado e sendo totalmente desinteressante para o resto da humanidade. Um tanto quanto trágico esse panorama de persona em crise.
Mas a finalidade da crise é achar o erro ou o porquê de "eu" estar "dando errado". Você quer e precisa urgentemente de algo que te faça sentir bem, útil, produtivdo. Aí pode estar a grande cilada, isso porque pessoas em crise estão mais suscetíveis, podem não perceber claramente o impacto de suas decisões. É a velha regra, ante o desespero, vale qualquer coisa.

É nesse momento que a melhor coisa a fazer é ter lápis e papel à mão. Colocar tudo no papel ajuda. Acho que fibras vegetais têm alguma substância relaxante ou calmante. Seu papel amigo está sempre de braços abertos para te "ouvir" e não tece comentários desagradáveis sobre suas inquietudes mais frívolas.

Então, caro amigo, quando estiver (ou achar que está) em crise, relaxe, aproveite, sinta-se bem porque, afinal, vocês está evoluindo. E quando isso passar, você perceberá que tudo pode ter sido nada ou coisa parecida.




(texto do blog que criei (http://nadaoucoisaparecida.blogspot.com/)

quinta-feira, 9 de julho de 2009

A Rainha de Veneza

Despiu a luva.
E seu afago ficara mais macio quando me tocou no pescoço.
Mexi-me para que acariciasse o outro lado.
À propósito, nessas horas me transporto pra um universo.
Para um bem paralelo. Daqueles que nem no infinito se encontram.

Facilmente me trouxe de volta com um pouco de sua linguagem
Universal.
Deixou-me imóvel, mas eu não podia parar...
Lembrei-me de quando o vento do Oeste, meu amigo Zéfiro,
Era casado com Íris.
E nós por vezes utilizávamos seu apartamento, que olhava pra Aurora.
Agora, dessa janela, víamos a carruagem brilhante se afastar.
Esse é o lugar, agora, onde o tempo passa muito rápido.

Pegou um cacho de uva e brincou de por em minha boca.
Gosta de ver meu gosto.
Nessas horas, creio eu, poderia morrer por ela.
Mas pensaria diferente perto da meia-noite, quando a carruagem estivesse do outro lado,
Na sua viagem ao redor do mundo.
Pensaria em pedir pra ela não me esquecer, talvez soltasse uma lágrima.

Deitou o cacho na tina de porcelana. Ao lado da luva de veludo.
Sabia dosar as coisas. Parava sempre a tempo, antes de tornar o agrado uma coisa menor.
O calor do quarto dependia de nós, agora que o sol se punha.
As cortinas balançam com o começo das brisas noturnas do mar que nos cerca por todos os lados.
Olhei-a nos olhos.
E fui dela.
Súdito que era.



----
Red Hot Chili Peppers

sábado, 13 de junho de 2009

Caro Iedo,

sinto saudades de sentar num banco e te ouvir reclamar da vida.
aos domingos me bate uma vontade besta de te ligar pra dizer que goles de cerveja fazem falta.
verdade que hoje é sabado...
culpa desses feriados! eles insistem em me antecipar a entediante rotina da solidao.

grande abraço,

thiago

ps: se nao puderes morar mais perto, ao menos mande noticias. espero respostas.

domingo, 17 de maio de 2009

Sobre laços e fossos

O nosso amor mingua
Como num banho morno
Fujo do frio e da língua
Quando evito a palavra
Uso um bonito adorno.
Contorno com esforço
O verso e a poesia
Não mais descrevo o que sentia
Entre nós, se outra havia
Resta, agora, enorme espaço:
Se separados estávamos, por um laço
Juntos, estaremos por um fosso.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Ubaldo

Ubaldo de Pinto T. Farias era infeliz.
Isso porque, desde pequeno, herdou da cacofonia
o Injuriante apelido de Balaio de Pica.
Os amigos sempre o chacotavam, e inventavam piadinhas de infâmia condizente com a fonética do nome.
Um dia um amigo disse ao se despedir de todos no trabalho:
“Vou me embora. E pra quem fica... podem ficar com ele...”
Todos entenderam.
Mas só Ubaldo não riu.
Alguém tentava anima-lo: “Ora, seje razoavi. Antes Ubaldo do que Caio”
E continuava...
“Sabes que é preferível a profusão fálica em sua completude ‘bojal’, do que a decadência broxativa de um nome romano”.
Ubaldo tentou psicologia reversa. Tentou levar na boa por um tempo e ver no que dava.
Mandou algumas vezes as pessoas o chuparem ou qualquer coisa que o equivalesse. Mas desistiu. Não que lhe fosse desagradável o sexo oral, mas que acabaria por sê-lo, somente por lembrá-lo do infeliz apelido.
Por infelicidade psicológica ou revertério divino, Ubaldo passou a sentir pavor, bem como a ter noção real, de toda e qualquer cacofonia.
Era quando gritassem “(...) a Fabi localizou o rolo maior... impressora... cartucho...” que ele surtava... e não só com cacofonias miméticas a seu nome. Quem pensaria que Fabi, nome pequeno, contivesse em si tamanho órgão. Mas ao mesmo tempo, a cacofonia levava aos verbos, e alisar era um verbo pavoroso.
Ubaldo fugiu.
Foi ao estrangeiro. Seria um tempo tão bom. Mas mesmo que ninguém conseguisse identificar a maldita cacofonia. Ele o fazia.
Aquilo, claro, o afetava. E de tão afetado que foi, duvidou de sua masculinidade.
Foi aí que decidiu!
Transforme-se. Muda-se. Fez cirurgia, sabia que não era mais homem. Toda aquela quantidade de caralho no seu RG o maculara.
Arrancaram-lhe o pinto.
Mudou de nome, claro. Talvez fosse essa a maior justificativa. Arrancaram-lhe o ‘de Pinto’ Pois não.
Na escolha... um nome bonito...
Como deveria ser.
Paula.
Ainda que ameaçador, o nome lhe soava agradável, familiar. E não cacofônico.
Tudo resolvido, Paula era uma mulher adorável... vivia feliz e contente. Sua vida, agora, seria melhor.
Seria.
Se o ‘T’ abreviado no seu nome, não carregasse a graça de Tejando.
E agora.
O que tu, no lugar de Paula Tejando Farias.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Ela

Que de longe me acalma...
parece viva!
Na noite escuta meus pensamentos, palavras e idéias!
às vezes, por mim deixada de lado...não sei o porquê...
E quando lembro que a dias não a percebia, tento matar a
saudade e me redimir, contemplando o que pra mim é Luz!
Se ela sente minha falta, se ela é tanto quanto eu penso...
não tenho certeza.
Só sei que ela me conhece, de tanto eu visitar o seu mundo!
Ela, Lua!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Ode ao amor platônico

Entre aspas e reticências, falo
Com metáforas e sinestesias, canto
Pelos verbos, que não transito, ajo
Em preposições e neologismos, espanto
Porém, ao citar pronomes, calo
E sem objeto, toco notas em silencio, mudo
Se em oração, o sujeito oculto
Faço dessa poesia, o meu grito surdo
Pois assim, sob sua revelia, esse amor sepulto.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Ossos negros

Procuro na escuridão o meu bem estar
É calmo é aconchegante é convidativo
Sinto as costelas o sangue o coração
Tudo parece ter mudado de ritmo

Reconheço meu lugar dentro da sombra
No espelho olho e não me vejo
Apenas carne e cabelo tentando me esconder
No escuro meu reflexo me conforta
Nada vejo nada sinto

A aura de sangue sombra e mistério me cerca
Encantado, começo a aproveitar
Eu mesmo! Finalmente
Ira maldade e frieza, tudo a tona

O êxtase invade meu espírito
E logo eu quero invadir também
Chave escondida, arrombamento... Nunca descobrirão
Em seu sagrado lar estive
Levei sangue sombra e excitação

A poucos metros de mim
Família cansada e indefesa
Se eu quiser, o que eu quiser
Não foi por isso que eu vim

O frenesi sobrepõe-se, mas tem fim
Não há sangue. Há sombra
Rompeu-se a combinação perfeita
Sinto-me diferente, estou ausente e presente
Recolhida a personalidade outra acorda
Ligue a luz! Quero me ver


25/02/2008


*Encontrei o papel quase sem pontuação, achei melhor não mudar

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Degustação

As lagrimas caíam na boca.
que gosto amargo elas tinham!
A língua, entretanto, persistia em saboreá-las,
como se, ao sentir totalmente seu sabor, pudesse por fim a dor.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Um trago

A inquietação veio buscar o tédio há tanto instalado. O efeito foi como de um tapa que traz de volta à consciência o coma, quase já perfeitamente incorporado. Mas quase!

Que ânsia boa, tão boa! A circunstância me leva inclusive a apreciar e degustar sua passagem por mim, já que, fazia muito, não a sentia. O difícil agora é somente impedir os devaneios da imaginação que a espera faz se multiplicarem, junto com o tempo do aguardo.

Não tenho a mínima idéia se corresponde ao real, mas tenho que me apressar de encontro a Platão, o limite se aproxima.

Eu só quero não deixar a consciência tomar conta, para roubar a espontaneidade do breve divino, beijar antes de tudo, abraçar um abraço todo e, gozado, fumar um ciagrro. Um que seja.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O tempo




as vezes, parece ele caminhar com os pés de um curupira
em outras, calçar as sandálias de lampião.

eis o tempo que gera e destrói,
que cura e adoece.
o tempo que voa,
o tempo que se arrasta,
o tempo que dá idas e vindas.

o tempo que passa mas nem sempre muda.
o tempo das pequenas reformas e das grandes revoluções.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Notas sobre o ateísmo

Talvez Deus, em sua onipresença bíblica, esteja mesmo em cada um de nós (ou, pelo menos, nos espaços que nos distancia). Talvez seja eu, criatura da própria criação, alguém incapaz de entender aquele que me criou.

Talvez um cadáver não seja mais que um deus arrependido.

Pensamentos avulsos de um diário inexistente

Histórias inventadas, se também acreditadas, não são menos reais, para aqueles que a tomaram por verdadeiras, do que nenhuma outra história. Relatos tornam-se fatos, e contra eles não nos é permitido ousar sequer um argumento.

Talvez sabendo que minhas palavras certamente mentem, vocês não mais me acreditem. Arrisco, porém, o conselho: nunca acreditem naquelas, ao menos não antes de reinventá-las.